A pergunta, eternamente sem resposta, fica suspensa no ar: e se não houver amanhã?
Após a morte da Teresa, uma apreensão tomou conta de mim. Pela Patrícia, em primeiro lugar, e depois por mim mesma, sabendo que o mesmo pode acontecer com meus pais, meus sogros, minha tia.
É normal, é natural, mas ninguém está preparado. E se não houver tempo para o último beijo? Para as últimas frases? Espera, tínhamos planos para o fim de semana! E agora?
Lembro sempre da minha avó, que morreu no intervalo entre descobrir que seria bisavó e o nascimento da Joana. São tantas as palavras nunca ditas, tantas alegrias não vividas que a dor volta como anos atrás, como se nunca houvesse realmente partido.
E eu, que estava com tanta preguiça de ir na Boiuna na sexta-feira, estou mais certa do que nunca. E se não houver sábado? Bem, pelo menos o dia anterior terá existido e ali saberei que houve amor.
No fim, é mesmo a única coisa que resta. Saber que fomos amados é a única sensação acalentadora no meio do desespero. Lembrar de palavras carinhosas e olhares amorosos será sempre um afago quando a saudade aparecer.
E ela aparece, sempre.
A dor da perda futura existe e eu sinto há anos. Quando uma morte como a da Teresa acontece, a dolorosa pergunta volta à minha cabeça: quanto tempo será que vai demorar para ser você aqui no lugar da Patrícia?
Hoje o coração está apertado, com tristeza pela perda da minha irmã de coração, e por saber que esse meu amanhã chegará. Se Deus quiser, que entre hoje e esse amanhã haja um intervalo muito longo.
ACL
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